sábado, 6 de julho de 2013

WC, aula prática (antes do cachorro chegar a casa)

A melhor forma (a única?) de se educar um cachorro a fazer as necessidades no local certo desde o primeiro dia é aquela descrita pelo assertivo Ian Dunbar. Refiro-me ao programa que o próprio denomina Errorless housetraining (para aceder ao link é preciso registo, que é gratuito). Se implementado sem falhas, este "programa" de treino permitirá que o seu cachorro faça ZERO servicinhos fora do sítio. Se o seu cachorro fizer algo fora do sítio, a prescrição de Ian Dunbar é esta: "pegue num jornal, enrole-o bem enrolado e bata com ele... na sua própria cabeça!; se isso aconteceu é porque não foi capaz de levar a cabo um plano simples de treino". E a verdade é que é um plano extremamente simples. 

A primeira coisa a ter em mente é a seguinte: não deixe o seu cão à solta e à deriva pela casa com a bexiga cheia. Ou seja, a altura de deixar o seu cão à solta e de promover brincadeiras pela casa só pode surgir depois de o seu cachorro fazer xixi. Quanto aos cocós, o procedimento será semelhante, mas apenas nas alturas posteriores às refeições (ou nas alturas que o dono já tiver percebido que são horas do wc do seu cão). Mesmo durante as brincadeiras, é má ideia deixar o seu cão à solta sem supervisão. Regra de ouro: deixe o seu cão à solta apenas quando o próprio dono está com ele, e apenas depois das necessidades feitas.

Segunda coisa: "mas como é que vou fazer para não deixar o meu cão à solta?". É aqui que entram dois conceitos importantes: Confinamento de curto-prazo e confinamento de longo-prazo. 
O confinamento de curto-prazo (também muitas vezes denominado Crate training, embora não seja, necessariamente, a mesma coisa) consiste em deixar o seu cão confinado num espaço relativamente pequeno durante períodos não superiores a 60 minutos. O melhor local possível para manter o seu cão confinado será uma caixa-transportadora. 
"Mas o meu cão não gosta de estar fechado." Então ensine-o a gostar. O treino de cães pode ter muitas definições, mas para mim a única viável é fazer com que o seu cão goste de fazer aquilo que lhe é pedido. Ora: encha um Kong, ou objecto similar, com uma porção (previamente humedecida e congelada) da ração diária do seu cão (das primeiras vezes, eu recomendo que misture algo mais apetitoso, em pouca quantidade, e no topo do Kong, para aumentar a atracção pela coisa). Atire o Kong bem para o fundo da caixa-transportadora e impeça, por alguns segundos, o seu cão de ir lá para dentro, de forma a aumentar a vontade do seu cão lá entrar. Depois, deixe o seu cão entrar, e espere uns 20 segundos para ver se o seu cão se entusiasma verdadeiramente com o Kong. Se ele se entusiasmar, então feche a porta. Ele nem irá notar. Mas, se ele não se entusiasmar, é perigoso fechá-lo nessa situação, pois ele estará focado no facto de ter ficado preso e pode facilmente ganhar aversão à caixa-transportadora. Neste caso, faça um Kong mais atractivo. Eventualmente, irá encontrar uma receita que faça o seu cão esquecer o mundo por alguns minutos. Durante o tempo em que o seu cão estiver confinado na sua "caminha", ele não vai fazer nenhum xixi. Mantenha o seu cão lá dentro durante períodos não superiores a 60 minutos. No final de uma hora fechado na caixa-transportadora, é provável que o seu cachorro tenha vontade de "eliminar". Leve-o até ao sítio desejado (no caso de o WC ainda ficar longe, poderá mesmo levá-lo ao colo para evitar que ele faça pelo caminho). Espere uns minutos. Eventualmente, ele fará qualquer coisa. Aí, não se coíba com as recompensas. Tenha à mão alguns pedaços de fígado cozido para lhe dar imediatamente após o serviço. Se demorar alguns segundos mais, poderá estar já a recompensar um outro comportamento, e não o xixi no local certo. Se ele não fizer nada durante uns 3-5 minutos, volte a colocá-lo na caixa-transportadora. E volte a retirá-lo passados 30 minutos, levando-o novamente ao WC. Repita o procedimento quantas vezes for necessário até que o seu cachorrinho faça alguma coisa. O importante é que ele faça as primeiras vezes no sítio certo; e que, em todas essas vezes, ele seja memoravelmente recompensado. 
Das primeiras vezes, use sempre um Kong bem atractivo para colocá-lo dentro da caixa-transportadora. Não se preocupe, um Kong pequeno leva muito pouca quantidade, pelo que dá para distribuir a quantidade diária de ração por vários Kongs diários. A partir do segundo dia poderá intercalar o Kong com um brinquedo ou um osso para roer. Escusado será dizer que a totalidade de refeições vai ser dada na forma de Kongs e dentro do confinamento. Isto acelerará o gosto do seu cachorro pelo espaço de confinamento. 
Bom. Isso é tudo muito bonito, mas as pessoas têm de trabalhar, e podem não estar disponíveis para tomar todas estas medidas. É aqui que entra o segundo conceito.
O confinamento de longo-prazo consiste em deixar o seu cachorro dentro de uma espécie de parque para cães (similar aos parques para bebés). Dentro desse parque haverá: a caixa-transportadora (ou outro tipo de cama, embora o ideal seja que a cama do seu cachorro seja a caixa-transportadora, por vários motivos, de entre os quais, o confinamento de curto-prazo), um prato para a água, um local designado e preparado para acolher as fezes e a urina do seu cachorrinho, e alguns kongs e brinquedos para o seu cão não só se entreter mas, sobretudo, aprender a adorar o seu "cantinho". O local para as necessidades deverá encontrar-se no canto mais afastado da cama, para aumentar as probabilidade de o seu cão acertar no sítio correcto. Convém que o "wc" seja constituído por um material muito absorvente, para que o seu cachorro possa lá ir mais do que uma vez (se o sítio estiver muito ensopado, o seu cachorro pode escolher um outro...). 
Para ensinar o seu cão a gostar de estar dentro do seu parque, proceda de forma análoga àquela descrita para a caixa-transportadora. Atire um kong lá para dentro, e impeça, por uns segundos, o seu cão de lá entrar; passados alguns segundos deixe-o entrar e feche a porta. Das primeiras vezes, mantenha-se lá por perto. Gradualmente vá-se afastando até deixá-lo durante alguns minutos sem ninguém por perto. Em acrescento, promova alguns momentos de interacção e brincadeira dentro do parque. Tudo com o objectivo de tornar o espaço altamente valioso e agradável para o seu cachorro. Tudo para que ele fique lá contente e tranquilo quando tiver de lá ficar sozinho. 
A diferença entre este tipo de confinamento e o anterior é, como o nome indica, a duração do tempo que o cachorro lá vai ficar. Enquanto o confinamento de curto-prazo (na caixa-transportadora) servirá para as alturas em que os donos estão em casa, e não deverá durar mais do que 60 minutos, o confinamento de longo-prazo servirá para as alturas em que os donos estiverem ausentes. 

Vantagens colaterais: para além de não andar a fazer cocó e xixi indiscriminadamente pela casa fora, o confinamento de longo-prazo vai impedir que o seu cachorro ganhe hábitos destrutivos, vai impedir que ele comece a ganhar gosto em roer os móveis e tapetes de sua casa. Mas, melhor do que tudo, vai habituá-lo a roer apenas e só os brinquedos dele. Porquê? Porque são as únicas coisas disponíveis para ele roer e, sobretudo, são coisas altamente atractivas, recompensando fortemente cada momento de roedura correcta! 
A cereja no topo do bolo é que o seu cão, ao cumprir este programa, está praticamente a treinar-se sozinho a não fazer asneiras quando está... sozinho.

Com o passar do tempo, aumente as zonas de confinamento de longo-prazo e reduza os períodos de confinamento de curto-prazo. Faça-o apenas e só se o seu cão der sinais de que está pronto para "assumir a responsabilidade". Se o fizer com critério e gradualmente, não tarda o seu cão terá livre acesso a toda a casa, ou, pelo menos, às divisões que o dono desejar permitir. 
Curiosa e ironicamente, este é o processo inverso ao processo que ocorre com mais frequência. Na maior parte das vezes, os cachorros começam com liberdade de movimentos quase indiscriminada, e vão vendo as suas liberdades ser reduzidas a pouco e pouco... O processo normal e natural de aprendizagem é o inverso: começar com menos liberdades e responsabilidades, e ir aumentando à medida que o comportamento do cão dá sinais de "merecer a confiança". 


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